domingo, 17 de agosto de 2014

Porque tantos suicídios?

Quando nascemos, nossos pais almejam um futuro para nós. Enchem nossos planos com os quereres deles, querem que sejamos advogados, médicos ou que trabalhemos no banco. Querem o nosso sucesso, nossa vitória profissional, querem que sejamos pessoas bem sucedidas profissionalmente. Como se não bastasse o fardo que temos que carregar para construção de nossas bem sucedidas carreiras, também querem que nos casamos, tenhamos a nossa casa linda e maravilhosa e que constituímos uma família.
Parece um tanto cansativo esse início de texto não é? Isso porque não mencionei formação acadêmica, vida espiritual, igreja, bom comportamento para que não seja alvo de fofocas da vizinhança entre outras coisas.

O fato é que desde que decidimos nascer, o mundo nos cobra muito caro pela vida. E nos primeiros instantes de vida, os pais são nosso primeiro mundo, o que eles são é o que nos transforma e nos afeta para o resto da vida. Não é culpa deles, porque eles também passaram pelo mesmo processo e terror psicológico que nós. Está no inconsciente coletivo, a cobrança.
Na medida em que vamos crescendo percebemos que os desejos de nossos pais era o menor dos nossos problemas. A parte da socialização com os outros e com o mundo externo é muito mais complicado, mais impiedoso e sarcástico.
O fato é que estamos sempre sendo cobrados, o tempo inteiro, por todos e por tudo. Até chegar um momento e este o mais fatal de todos os outros tipos e canais de cobranças, que é você passar a se cobrar excessivamente. Tem que levantar cedo para chegar no horário, tem que estudar muito para tirar boa nota na prova, tem que ser um funcionário exemplar, um filho exemplar, um bom marido, uma dedicada esposa, um pai invencível, uma mãe destemida e amorosa, tem que ser a melhor amiga, uma nora querida, um genro respeitoso. Tem que pagar as contas em dia, tem que trabalhar dois anos seguidos numa mesma empresa para então conseguir trinta míseros dias para poder viajar, mas tem que guardar dinheiro porque ao voltar das férias você não terá dinheiro, e então você tem que pagar as contas e tem que trabalhar por mais um ano e assim sucessivamente.
Vivemos numa sociedade com o pensamento tão arcaico, que ainda somos escravizados pelo sistema, e não é discurso anarquista, estou falando do limite moral e psicológico das pessoas.
Veja quantas pessoas estão cometendo suicídio, decidem acabar com a própria vida, certamente essa atmosfera sombria que envolve nossa cabeça com os sussurros de cobranças nos domina, nos sufocam, nos desencorajam a querer ser melhor, a lutar por uma vida de paz, de natureza e de sossego. A globalização assola a humanidade, as inovações tecnológicas, as informações que chegam para nós numa velocidade efervescente e a capacidade que temos que desenvolver em tão pouco tempo para filtrar todas essas informações.
A sociedade é programada para ser dinâmica, para lucrar o tempo inteiro, a bolsa de valores não pára e por isso a produção tem que ser 24 horas por dia, sem pausa para um café, um cigarro, umas risadas.
Você chega no trabalho e seu superior nunca senta para tomar um café com você e perguntar "como foi seu dia?", "como estão as coisas em casa?", porque certamente ele já sabe a resposta e porque ninguém nunca pergunta isso para ele, a não ser que a pessoa queira um aumento em seu salário. Mas a verdade é que, um chefe, uma pessoa treinada para um cargo de autoridade, não pode se aproximar de seus subordinados, tem que tratá-los como inferiores porque se vira amigo fica folgado, diminui a produção e a meta de empresa fica comprometida. E é assim friamente calculado a estratégia da sociedade em que vivemos. Uns a chamam de sociedade capitalista, outra de sociedade evoluída, outros de sangue-suga. Eu a chamo de SOCIEDADE ASSASSINA, é esse o sistema que vivemos.
Essa metodologia arcaica se aplica em todos os setores da sociedade, seja comercial ou cultural. Outro dia eu escreverei sobre a vida de um artista nessa sociedade assassina. A qualidade de vida não interessa para os grandes poderosos. Um bosque cheio de árvores seculares, centenárias e diversidade orgânica, não interessa para a especulação imobiliária. Não temos onde descarregar nossas energias negativas, e também não temos tempo e nem temos dinheiro, porque trabalhamos exaustivamente somente para pagar contas e fazer a máquina do Estado rodar, não temos como parar e nem podemos falar: CANSEI, preciso descansar, preciso respirar e pegar mais um fôlego para continuar minha caminhada. Ela não dá esse tempo para nós, ela nos esfola vivos, ela rouba da gente o que temos de melhor, nossa juventude, nossa liberdade, nossa pureza, nossa FÉ.

E o que motiva uma pessoa a tirar sua própria vida?
A falta de fé, e não estou me referindo a religião ou qualquer dogma. Estou dizendo, falta de fé em você mesmo, falta de fé na sua capacidade de ser quem você é, falta de fé nas suas habilidades, falta de fé no seu instinto, falta de fé no seu trabalho, falta de fé no seu caminho, na sua família, nos seus amigos, falta de fé no amor, falta de fé na sua própria vida.

Quando nos olhamos no espelho e não nos reconhecemos mais, não tem porque continuar vivo, pensamos: fiz tanta coisa, para tanta gente, pelos outros e no fim das contas sou uma idiota, uma pessoa sozinha no meio desse mundo gigante. De nada adiantou meus esforços, não sirvo para nada, não sou reconhecida.

O fato é: a sociedade assassina age assim nas pessoas, sorrateiramente ela vai assassinando sonhos e corrompendo as suas verdades. As pessoas do seu trabalho, querem sugar de você toda a sua criatividade e depois te darem um grande pé na bunda. E o argumento do seu "chefe" é que o mercado é assim. Mas na verdade ele é um bundão que nem você, um trouxa marionete do sistema. Todos agimos como grandes bundões marionete do sistema. E até que queiramos mudar esse circo todo, muitos ainda vão cometer suicídios, porque quem assassina é a sociedade, o suicídio é só a consequência de uma mente sem sonhos, sem amor e sem a fé de uma nova esperança e a consciência embebida de soníferos, não nos faz perceber de que somos seres de luz, movidos pelo amor e pela energia cósmica que emana do universo para dentro de nosso coração despedaçado e que nossa fé reestrutura nossos objetivos, talvez essa seja a maior arte de todas, a de vivermos enfrentando nossos demônios interiores e nos reinventando a cada primavera.



Aline Gaia!
08/2014

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